Estevão Müller: Sabedoria e paixão pela terra natal

Com 90 anos de idade, o pesquisador lapeano Estevão Müller tem saúde e sabedoria de dar inveja a qualquer um. Fluente em seis línguas (português, alemão, francês, espanhol, inglês e latim), o professor aposentado é um dos filhos mais ilustres da Colônia Mariental. Descendente dos alemães do volga, que deram origem à colônia, Estevão é apaixonada pela cultura local e é o autor de dois livros que contam a história do distrito lapeano.
Com uma memória impecável e uma inteligência que poucos têm, conversar com Estevão Müller é ter uma aula de história. Ele lembra perfeitamente de Mariental das décadas de 1920 e 1930, quando era um garoto. “Minha infância foi aqui em Mariental, a chácara onde nasci existe até hoje. Naquela época não tinha asfalto, era tudo chão batido e usávamos as carroças. O ensino aqui era muito bom, a escola era ao lado da igreja e me recordo que tínhamos aula de manhã e de tarde. Na parte da manhã nos ensinavam em alemão, na parte da tarde aprendíamos as mesmas matérias, só que em português”, relatou.
O gosto pelos estudos que, começou na colônia Mariental, fez Estevão ir longe. Na adolescência mudou-se para Curitiba, onde começou sua história na Congregação Marista. Ele chegou a ficar 11 anos sem visitar a família por conta do rígido regime de estudos da instituição na época. Fez várias formações dentro do Grupo Marista, como Filosofia e Teologia e permaneceu como professor por 30 anos, depois disso foi diretor de escolas maristas por mais 20 anos. Nesse período esteve em Belo Horizonte, Cascavel, São Paulo, mas sem nunca esquecer Mariental.
Ao se “aposentar”, Estevão colocou em prática um dos seus maiores desejos: contar a história do seu povo. Se tornou um pesquisador e visitou a Alemanha, a fim de conhecer a história dos seus antepassados. “A gente precisava contar a história do nosso povo. Nós chegamos aqui e fomos jogados nessa região. Tivemos que construir casas no meio do mato onde havia vários animais como cobras e doenças que na época não tinham cura e mataram muitos de nós, como a tuberculose. Estávamos aqui na época do cerco da Lapa, fomos perseguidos pelo fato de falarmos alemão na 1ª e na 2ª guerra mundial. Hoje a Mariental é uma comunidade séria, aprendemos a ser sérios com o sofrimento”, conta o pesquisador.
Após anos de pesquisa o lapeano lançou os livros “Além dos Mares a liberdade” e “Os ventos sopram liberdade”, que contam a epopéia dos alemães da região da Volga, até chegarem na Colônia Mariental.
Atualmente o incansável Estevão está fazendo pesquisas para uma nova obra que vai contar a história dos escravos na Lapa. “Hoje em dia no meu tempo livre eu trabalho em pesquisas. Trabalho também na pastoral dos hospitais do Grupo Marista, mas todos me conhecem como um pesquisador. Atualmente estou recolhendo informações e pesquisando sobre os negros da Lapa no tempo da escravidão. Esse é um assunto que não temos registros, e assim como a Colônia Mariental, eles merecem ter sua história contada”, afirma.
Cidadão ilustre da Lapa, estevão mora atualmente em Curitiba, mas semanalmente visita a sua terra natal, Mariental, onde é muito querido e diz que todos os moradores são seus parentes.